5 livros para entender a Independência do Brasil para além de D. Pedro

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“Independência ou morte!”, teria bradado D. Pedro I nas margens do riacho Ipiranga no dia 7 de setembro de 1822. Por mais que os livros de História tenham, durante muito tempo, exaltado esse episódio como o evento crucial do processo de independência do Brasil, hoje os historiadores reconhecem que o processo vai muito além daquela declaração.

O professor de História do colégio Rio Branco e coordenador do site Portal do Bicentenário, Pedro Castellan Medeiros, ressalta que, ao longo do tempo, as narrativas construídas a partir da declaração de D. Pedro contribuíram para uma simplificação do processo de independência, que acabou por excluir ou diminuir a participação de outros grupos sociais.

“Desde a Independência, variadas narrativas, com a exaltação de diferentes símbolos, foram adotadas para se referir à emancipação brasileira”, afirma. Um exemplo dessa exaltação seria o famoso quadro do artista Pedro Américo, de 1888, que retrata a declaração da independência de forma épica, dando tons gloriosos e míticos à ocasião.

Para fugir de narrativas simplistas, é preciso enxergar a independência como um longo processo que envolveu diversos atores sociais do país. O desejo da população por uma emancipação de Portugal já podia ser visto em movimentos como o da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, no fim do século 18.

Pensando nisso, o professor Pedro Castellan Medeiros indica 5 livros que proporcionam uma visão mais ampla do processo de independência do Brasil, incluindo obras publicadas neste bicentenário e outras já consagradas. Em cada indicação, o professor justifica a escolha ressaltando a sua relevância e as principais temáticas abordadas.

1. Almanaque da História do Brasil nas Independências – Jurandir Malerba

“Escolhi o ‘Almanaque do Brasil nos Tempos da Independência’, do professor Jurandir Malerba (UFRGS), por ser um livro que dialoga com um público para além dos historiadores. Em um trabalho de síntese histórica, tão importante nesses momentos de velocidade informacional, o professor utiliza do formato do almanaque que possui um recurso mais visual e lúdico para demonstrar que os tempos das independências são múltiplos, repletos de personagens, espaços e acontecimentos que nos fazem pensar em questões da nossa atualidade. Escravidão, racismo estrutural, condição dos povos indígenas e as mulheres nas independências são algumas das temáticas abordadas pelo Almanaque.”

2. Independência: História e Historiografia – István Jancsó

“Um clássico da historiografia, o professor István Jancsó (USP) organizou uma obra de peso. Contando com a contribuição de 27 historiadores especialistas no tema, o livro ‘Independência: história e historiografia’, de 2005, trata de maneira aprofundada e com rigor acadêmico e historiográfico o processo de separação entre Brasil e Portugal. Mesmo sendo uma leitura mais densa, com discussões teóricas e conceituais, os artigos deste livro podem ser lidos separadamente de acordo com os interesses temáticos do leitor. Definitivamente, uma bibliografia que deve estar presente nos currículos acadêmicos.”

3. A outra independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824 – Evaldo Cabral

“Publicado em 2004, o professor Evaldo Cabral de Melo apresenta o livro intitulado ‘A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824’. Um livro mais que necessário para problematizarmos os distintos espaços e projetos políticos que culminaram na Independência do Brasil. Ao se afastar do eixo Rio-São Paulo, o historiador pernambucano nos conta outra história: entre a Revolução Pernambucana de 1817 até a Confederação do Equador de 1824, o livro apresenta outros projetos de Nação que estavam sendo gestados. Não trata-se aqui da união ou separatismo das províncias do Norte em relação ao Rio de Janeiro, mas de propostas em disputa: a construção de uma ordem constitucional baseada no poder centralizada no Imperador ou a possibilidade de dar maior autonomia para o governo local, estender a cidadania para um corpo político mais amplo e estabelecer efetividade à cidadania nestes novos moldes. O livro nos ensina que a construção do Estado Nacional estava em disputa em diversas localidades, por diversos atores e protagonistas.”

4. Sequestro da Independência: uma história da construção do mito do 7 de setembro – Lilia Moritz Schwarcz, Lúcia Klück Stumpf e Carlos Lima Junior

“Lançado neste ano para as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, as pesquisadoras Lilia Moritz Schwarcz, Lúcia Klück Stumpf e Carlos Lima Junior se debruçam sobre a construção histórica do mito do 7 de setembro problematizando as disputas de narrativas em torno de idealizações de personagens e eventos que constituem a memória e identidade de nossa nação. Partindo da análise iconográfica do quadro ‘Independência ou Morte’ (1888) de Pedro Américo, os historiadores apresentam as tensões históricas em torno da construção dessa obra que tinha por objetivo fazer de São Paulo centro da política nacional no final do século XIX e início do XX. Este processo acabou inviabilizando outros agentes sociais e localidades em conflito em torno da Independência. Escolhi esta obra pois nos possibilita analisar o processo de independência a partir de outras documentações históricas com pinturas, gravuras, litografias, esculturas, produzidas ao longo do século XIX.”

5. Independência do Brasil – João Paulo Pimenta

“Lançado também em 2022, o livro ‘Independência do Brasil’ do professor João Paulo Pimenta (USP) é uma obra voltada para todos os públicos: especialistas ou não, o livro põe em pauta a Independência como um assunto atual, polêmico e rico de possibilidades. O livro propõe construir um panorama do Brasil e do mundo na passagem do século 18 ao 19 apresentando ideias, identidades coletivas e conflitos tanto na Europa quanto no mundo americano. Passando por eventos importantes desse processo, a corte no Brasil, a revolução pernambucana e a Revolução do Porto são tratadas com intuito de estabelecer conexões entre os eventos. A obra também demonstra que o 7 de setembro não encerra o processo independentista, mas continua na construção do Estado Nacional com a elaboração da constituição e as bases da nossa identidade nacional.”