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O que é dar conta? Para o dicionário, é “ser capaz de cumprir, executar, fazer”. Na prática, é o tipo de coisa que, quando não acontece, deixa a gente com a cara lá no chão. Vergonha, raiva, sensação de impotência, insuficiência e inutilidade…
O que é realmente dar conta das coisas? Na Jornada de Organização significa o que escolhemos e para onde dedicamos esforços.
Se os influencers do Instagram fazem parecer que você tem que trabalhar, estudar, fazer comida, skincare, crossfit, ter uma horta orgânica, planejar e fazer viagens maravilhosas, investir na bolsa, praticar yoga – TUDO ISSO AO MESMO TEMPO E COM MAESTRIA – saiba que eles vivem para fazer parecer que é fácil. E muitas vezes eles têm uma equipe enorme trabalhando nos bastidores dessa rotina perfeita.
Na vida real, é questão de escolha. Trabalhar, estudar, fazer comida, se cuidar, cuidar da casa, cuidar da família… Que trabalho que dá a vida que a gente não posta! Estamos vivendo nossas lutas e projetos pessoais, e nem tudo a gente precisa (ou quer mesmo) abraçar.
O que fazer quando simplesmente não conseguimos fazer? A gente para, reavalia, reorganiza e entende o que a vida está apresentando.
Conforme ensino e falo, organizar nos leva a maior clareza do que é essencial e do que faz parte da nossa vida. A partir disso, também temos mais clareza da frequência com que as coisas precisam acontecer, assim como o retorno e satisfação que elas nos trazem. Por sinal, se não há retorno e satisfação envolvidos, repense porque você tem se dedicado tanto a essa demanda.
Você não precisa necessariamente dar conta de tudo que o mundo coloca pra você como obrigação, ou caminho de sucesso. É possível vivenciar pertencimento e sensação de plenitude dando conta do que lhe cabe, daquilo que é sua vida.
O que você vem contando pra si mesmo que dá conta? O que você realmente quer dar conta? Afinal de contas, será que isso é mesmo da sua conta?
O CAMINHO DO ESSENCIALISTA
Dar conta das coisas que temos a fazer é bem mais fácil quando trilhamos o caminho do essencialista, refletindo sobre o que de fato importa para nós. Isso envolve aprender a fazer a boa gestão de alguns recursos bem essenciais: tempo, atenção e dinheiro.
TEMPO
Quando vivemos o essencialismo, não é que a gente faça mais coisas em menos tempo.
Na verdade, a gente apenas faz as coisas certas. E isso envolve boas doses de contemplação e planejamento. Independentemente de quantas horas ou minutos por dia ou semana você consiga separar para si, é essencial investir algum tempo para explorar suas possibilidades e quem sabe recalcular a rota.
ATENÇÃO
Para ser um essencialista é preciso desenvolver a conscientização e a capacidade de escolher inclusive aquilo a que dedicamos nossa atenção. Nem tudo é importante. Nem tudo precisamos memorizar. E nem tudo precisamos consumir. Quando temos isso em mente, fica bem mais fácil hierarquizar o que é válido tomar nossos pensamentos ou não.
DINHEIRO
Por mais essenciais que nossos ganhos sejam, tanto para a manutenção da nossa existência quanto para a realização de nossos sonhos, tudo tem limite. Esbanjar dinheiro, ou viver financeiramente desorganizado é desperdiçar nossa energia vital. Porque o verdadeiro valor das coisas não se estabelece pela precificação delas, mas sim pelo esforço e tempo de vida investidos na sua obtenção.
ABRA MÃO DO QUE NÃO IMPORTA
Mas tão importante quanto fazer a gestão de tempo, dinheiro e atenção, é saber filtrar as expectativas (nossas e dos outros). Viver o essencialismo é, muitas vezes, abrir mão de coisas que nem são importantes pra você, mas para alguém que está depositando expectativas em você. Olhe ao redor: não tem um monte de gente metendo o bedelho na vida da gente o tempo todo? Saber eliminar excessos também é sobre filtrar as opiniões que não nos cabem. E tirar as que não nos agregam.
QUANDO A PERSISTÊNCIA VIRA DESPERDÍCIO
Às vezes a gente é tentado a continuar investindo energia, tempo e dinheiro em um coisas que sabemos que não vão levar a nada, apenas porque já investimos nosso tempo (ou dinheiro) nelas antes. Nem tudo que a gente começa a gente precisa terminar, viu? Sempre é tempo de (re)pensar quais tarefas precisam, de verdade, ser feitas e quais podem ser eliminadas, tornando sua execução mais produtiva, objetiva e leve.
Viver e fazer a gestão dos recursos que temos. Isso envolve muitas escolhas cuidadosas e diárias. Como usar o tempo, o dinheiro e a atenção, por exemplo. Como economizá-los, como fazê-los render. É dessas decisões – pequenas e grandes ao mesmo tempo – que a gente extrai nosso sucesso nas coisas que nos propomos a fazer. Dar conta de algo é isso: trilhar o caminho daquilo que nos é essencial.
E quando damos conta e vivemos a boa gestão desses recursos, ainda assim podemos acabar nos perdendo. Ninguém está livre de, de uma hora pra outra, deixar de dar conta daquilo que se propôs a fazer. Inclusive, o próprio sucesso pode nos tirar do foco. Calma, que eu explico:
Adoro um texto do Greg McKeown em seu livro “Essencialismo – A Disciplinada Procura por Menos”. Falando sobre o quanto as conquistas humanas são escorregadias, ele cita o Paradoxo do Sucesso: quando você passa a ter mais propósito e clareza naquilo que faz, você começa a otimizar os seus recursos e usá-los para realizar suas tarefas com diligência. E à medida em que isso acontece, você começa a ser reconhecido como alguém que faz acontecer naquela área. A ponto até de ser tido como especialista naquilo.
PORÉM, quanto mais você é reconhecido por esse sucesso, mais oportunidades diferentes surgem no seu caminho. Elas são convidativas, e oferecem outras formas de ser bem-sucedido. E chega a ser perigoso que o efeito do nosso êxito acabe eventualmente tirando o brilho daquilo que nos levou a ele. E se você não se cuida, acaba perdendo de vista aquela coisa essencial à qual se dedicou tanto. Foda, eu sei.
Por que estou falando disso? Quando damos conta, é bom que a gente não se perca. O sucesso traz maior poder de escolha. Mas essas opções podem acabar nos distraindo do nosso propósito, da nossa contribuição maior à comunidade em que estamos inseridos. E isso nos tira do caminho do essencialista.
Por isso, foco no caminho. não esqueça de curtir a jornada.
LIDANDO COM OS ERROS
Quando você dá uma mancada, faz o quê? Quando perde o controle, a quem recorre? Eu já passei por isso algumas vezes na vida, e em várias delas eu me vi sozinha. Eu não queria buscar ajuda, porque isso me mostraria frágil diante do outro. Não queria que os outros soubessem que eu não havia dado conta. Quem nunca, né?
O que eu não sabia antes é que assumir que você não dá conta não faz de você um fracassado. Muito pelo contrário, te dá a oportunidade de entender os seus limites e CRESCER diante das suas dificuldades. Amadurecer é olhar pra isso e parar de querer bancar o super herói 24h por dia. Você é um humano e não um personagem da Marvel.
Entender que a gente não dá conta de tudo é saber olhar para a própria jornada como um todo com compaixão, e não apenas para um ou outro passo mal dado. Isso demanda humildade e capacidade de observação. Também exige escuta. Porque, nessas horas, melhor do que procurar respostas sozinho é saber ouvir o outro e aprender com ele.
Aqui entra a questão de aprender a pedir ajuda. E contornar o fato de que a gente tem pavor de se expor dessa maneira, talvez por achar que é humilhante reconhecer que errou. Ou ainda que, em pleno 2021, precisamos dar conta de tudo, já que sempre existe um tutorial a um google de distância.
Para encontrar o equilíbrio e seguir em movimento, muitas vezes a gente vai precisar de ajuda, tanto de amigos e parentes, como de profissionais. Extrair da experiência dos outros o conhecimento para nossa própria experiência. Somos seres humanos, sociáveis por natureza, e só crescemos e chegamos até aqui enquanto sociedade por via de colaboração. Até porque a “sobrevivência do mais apto” nunca significou que a evolução seria individual.
Em grupo, fica bem mais fácil dar conta. E é isso o que me levou a criar a comunidade TRILHAS: proporcionar um espaço de troca e ajuda, onde esse suporte para uma vida mais leve pudesse ser encontrado sem tanta dificuldade. É bem mais gostoso dividir a caminhada com outras pessoas que têm o mesmo propósito.
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