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Fuvest: confira redações nota máxima dos últimos anos

Na segunda fase da Fuvest 2023 os candidatos, além de responderem a 10 questões discursivas, precisam redigir uma redação sobre um determinado tema proposto. O vestibular da Universidade de São Paulo é famoso por exigir dos seus candidatos redações sobre temas mais abstratos, associados geralmente ao campo da Filosofia e Sociologia.

Assim como no Enem, o gênero textual é dissertativo-argumentativo, mas, diferentemente deste, não cobra uma proposta de intervenção no parágrafo final.

Uma boa estratégia para mandar bem na redação da Fuvest é estudar a partir de redações exemplares dos anos anteriores. O GUIA DO ESTUDANTE compilou algumas redações nota 50 – isto é, a nota máxima que um candidato pode tirar na prova – para você se inspirar.

De quebra, você ainda consegue entender o que a banca do vestibular considera mais importante no texto de um candidato.

Fuvest 2022

Nesta edição, o tema de redação proposto na Fuvest foi “As diferentes faces do riso“. Cinco textos motivadores acompanhavam a proposta, incluindo trechos jornalísticos, literários e uma frase do humorista Paulo Gustavo. Você pode conferir a coletânea completa acessando o arquivo digital do primeiro dia da segunda fase da Fuvest 2022.

Confira abaixo, a redação nota 50 de Julia Hamdan, estudante do curso de Medicina da USP Pinheiros.
Último riso marginal

A associação do riso à alegria é universal, entretanto, existem faces do ato de rir ligada ao exercício de poder. O provérbio brasileiro “quem ri por último ri melhor” exemplifica uma dessas faces: a noção de que o “último riso” é o melhor, simboliza a vitória de um grupo social que ri em detrimento de outro, que se cala. Nesse sentido, sob a influência de conjunturas e contextos diferentes, o direito à risada pode representar o triunfo de setores marginalizados ou a vitória dos que buscam o controle e a apassivação de outros. Isso, paradoxalmente, sem deixar de ser um símbolo da felicidade (Eudaimonia), que, para Aristóteles deveria ser um objetivo coletivo.

Existe, na face do “riso dos opressores”, um sentido literal – o escárnio- e um sentido simbólico ligado à vitória da opressão. O primeiro é o ato de rir de alguém, de um grupo, ou de uma situação os banalizando. Um exemplo disso foi, em 2021, no Brasil, a circulação de vídeos ironizando as mortes por COVID 19, por meio de piadas e imitações da falta de ar, ocasionada pelo adoecimento, protagonizados por representantes do Governo Federal. Ações como essas resultam, através do riso maléfico, na manipulação social para menosprezar demandas importantes, envolvendo direitos humanos, a resolução da pandemia ou questões socioeconômicas. Nesse viés, o direcionamento do humor para temas sociais relevantes e urgentes a fim de deslegitimá-los intensifica, metaforicamente, a possibilidade de o “último riso” pertencer a grupos que associam discursos de ódio e intolerância ao humor.

Por outro lado, a resistência associada ao riso só é possível quando esse é protagonizado, em sua geração e vivência, por setores marginalizados das sociedades. Isso porque, há também o controle de sujeitos por meio da anestesia gerada ao rirmos: conhecidas como “políticas do pão e circo”, os investimentos em entretenimentos que distraem a população de pautas sociais, embora tenham em seu bojo algum “riso”, causam a apassivação dos sujeitos- risos inertes, sem ação social. EM contrapartida, a apropriação popular do lazer e do humor garantem a faze de resistência do riso. Como exemplo dessa, têm-se os memes na Internet -os quais proporcionaram ao Brasil título de Fábrica de memes- e que o riso é gerado de forma crítica e a partir da inventividade popular que consegue, ainda que marginalizada ou silenciada, nutrir seus risos-risos marginais.

Desse modo, embora haja diferentes faces do riso, o “último” deveria ser o marginal -da população para a população- que resiste aos escárnios. Assim, a Eudaimonia aristotélica pode ser alcançada através do humor popular.

Guia do Estudante

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