Neste domingo (20), aconteceu o segundo e último dia de provas do Enem 2022. Desta vez, os estudantes enfrentaram uma maratona de 90 questões das áreas de exatas e biológicas. Foram 45 questões no caderno de Matemática e suas tecnologias e mais 45 no de Ciências da Natureza e suas tecnologias, que engloba Física, Química e Biologia. A prova seguiu uma tendência de fazer relações com temas do cotidiano, mas foi mais trabalhosa do que anos anteriores.
Foram poucas as questões que cobraram a conta pela conta, avalia Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo. As perguntas foram todas acompanhadas de um contexto que pedia a leitura de um enunciado, gráfico ou tabela, com um conteúdo mais detalhado. “Ou seja, foi uma prova mais trabalhosa, que exigia que os alunos entendessem um contexto específico antes de chegar a uma resposta”, diz.
Na prova de Ciências da Natureza, dois grandes temas chamaram atenção. O primeiro, combustíveis, apareceu nas questões a partir de contextos como placas voltaicas, redução do consumo de energia, produção de etanol e os acidentes nucleares de Chernobyl e Fukushima. O outro tema, doenças, apareceu em questões relacionadas à covid, dengue e a doença de Chagas.
Em Matemática, a prova contou com três temas em destaque. Um grupo significativo de questões envolveu jogos ou esportes: automobilismo, baseball, futebol, bingo, vôlei e também aplicativos de jogo para celular. Uma outra leva focou em aspectos do comércio: produção de doces de chocolate, montadora de carro, comissão para o salário, meta de vendas, loja de roupas, e até mesmo marketing digital. Por fim, um terceiro grupo de questões abordou contextos da vida em sociedade, como a quantidade de pediatras necessários para uma UBS, expectativa de vida, relação entre candidatos e vagas em uma universidade e rodovias que ligam municípios.
Confira abaixo comentários sobre cada disciplina.
Matemática
Como já é esperado do exame, muitos gráficos – pelo menos seis. Este ano, porém, as questões não apresentaram tirinhas, charges, letras de música ou referências literárias; foram poucas as interdisciplinaridades com Ciências Humanas. Além disso, os textos presentes, em sua maioria, datavam dentre 2009 e 2014. Para o professor Vinicius Beltrão, do SAS Plataforma de Educação, uma prova mais técnica e objetiva.
Muitos itens envolviam conceito de matemática básica, como aritmética, razões e proporções, e porcentagem. Probabilidade e análise combinatória, como esperado, também estiveram presentes. Assim como funções de primeiro e segundo grau.
O professor Luís Felipe Abad, autor de matemática do Sistema pH, aponta que Geometria ocupou cerca de um terço da prova, se dividindo entre plana e espacial. “Escalas e sólidos geométricos foram muito explorados, e, além disso, o candidato precisava de uma boa visão espacial para resolver alguns itens de planificação e projeções ortogonais.”
Não houve questões polêmicas. Pirâmide, triângulo retângulo, cálculo de áreas, funções logarítmicas, e PA e PG não deram as caras. De forma geral, o professor de Matemática Mário Fernandes, da Oficina do Estudante, analisa a prova como equilibrada, exigindo do candidato domínio nos conceitos fundamentais e leitura atenta.
Física
Para o professor Raphael Barbosa, autor do Sistema pH, a prova de Física apresentou nível de dificuldade médio. “Naturalmente havia algumas questões mais simples e outras mais elaboradas, mas em sua extensa maioria as questões foram objetivas, bem explicadas e diretas, como a gente vinha verificando nas últimas edições”. Com poucas exceções, tudo que foi cobrado estava dentro do esperado pelo exame.
O professor destaca que cinemática escalar cai todo ano e nesta edição não foi diferente. O tópico apareceu em duas questões. Em relação à Dinâmica, duas questões também: uma simples, sobre identificação de forças, e outra mais sofisticada, sobre pêndulo simples. Esta última, se destaca negativamente, por não apresentar um enunciado totalmente claro. “Certamente seria mais adequado se tivesse pelo menos uma figura pra ajudar”, opina.
Outro assunto que vem caindo com frequência nos últimos é calorimetria, e neste ano foram duas questões. “Vale o registro, no entanto, que não apareceu equilíbrio térmico, que é um tema bem relevante”. Assuntos que merecem destaque na prova incluem: energia/dinâmica impulsiva, potência, Primeira Lei de Ohm, fenômenos ondulatórios e geradores/receptores. E também dois temas mais relacionados à Física moderna, fótons e buracos negros.
Química
Francisco Neto, professor do Descomplica, classifica a prova de Química como difícil e conteudista. “Nenhuma das questões era possível resolver apenas com o texto base e o raciocínio em cima dele”, analisa o professor. A prova trouxe alguns temas recorrentes, como o tratamento de água, métodos de proteção dentro de eletroquímica, radioatividade envolvendo meia vida, além de uma questão de química ambiental envolvendo chuva ácida com o ciclo do nitrogênio. A única surpresa, segundo Neto, foi não ter caído isomeria, que é um assunto que foi muito presente nos últimos anos.
Para Julio Cesar, professor de Química da Plataforma AZ, a prova estava mais difícil do que no ano passado. Os temas esperados, de fato, apareceram, e alguns com um grau de dificuldade significativo. Outros, porém, se equilibraram entre questões médias e fáceis. Houve ainda uma questão de titulação e outra sobre cinética. Assuntos como radioatividade, soluções e reações química orgânicas e inorgânicas também deram as caras.
Biologia
Já a avaliação de Biologia trouxe mais novidades em relação às temáticas das questões. Uma prova atual, composta por questões de grau médio de dificuldade e bastante diretas, avalia Gustavo Camacho, professor de Biologia da Oficina do Estudante. A prova, que tradicionalmente tem um viés muito ambiental, neste ano teve apenas três questões abordando Ecologia e Meio Ambiente. Em contrapartida, saúde humana ganhou destaque nesta edição.
Os itens trataram de doenças como o coronavírus e a filariose, e também trouxeram luz para as novas tecnologias que são usadas em Biologia, como terapia gênica. “Foi uma prova bonita em relação ao conteúdo, mas, por outro lado, cobrou uma parte da disciplina que o aluno normalmente tem mais dificuldade”, opina Rubens Oda, professor do Descomplica.