Nesta reta final de preparação para os vestibulares, é comum que os estudantes resolvam desacelerar e dedicar-se à revisão dos conteúdos, seja participando de aulões ou resolvendo listas de exercícios. Tem uma parte, no entanto, que pode acabar ficando de lado: as obras obrigatórias cobradas em provas como a Unicamp e a Fuvest. Já pensou como seria possível incluí-las na revisão?
Norival Leme Júnior, professor de literatura da plataforma de cursinho preparatório Stoodi, diz que quando se trata das leituras obrigatórias, este é o momento de revisar as anotações e incorporar novas informações que, por ventura, você adquiriu neste intervalo de tempo. Essa é uma forma de fixar o conteúdo e ganhar mais confiança. “Debater com colegas pode oferecer perspectivas novas e tornar o processo mais dinâmico”, sugere Júnior.
Ele também aconselha que o estudante estabeleça prioridades. “É interessante fazer uma revisão mais cuidadosa sobre as obras com as quais o candidato simpatizou menos ou teve mais dificuldade. Por fim, se puder, ainda que de maneira rápida, é importante passar pelas demais”, explica.
Além disso, um método que pode ser aplicado nesta reta final é revisar os exercícios de literatura dos últimos exames. Isso possibilita um maior entendimento do nível de cobrança e das abordagens adotadas pelas bancas.
O que revisar das obras obrigatórias?
O Professor Norival diz que é fundamental que o candidato conheça os aspectos estruturais (foco narrativo, enredo, principais personagens, tempo, etc), o contexto histórico, político e social em que a obra está inserida e o estilo de época. Esses fatores são cobrados em questões que propõem análises e interpretações de ações e falas das personagens, a partir de determinadas passagens dos livros.
“O estudante também precisa se atentar para contextos específicos de outros países, como Portugal e Moçambique (muitas vezes desconhecidos do leitor brasileiro), já que as listas contemplam leituras não só de obras nacionais, mas também de literatura portuguesa e de países africanos que compartilham do nosso idioma”, acrescenta Diogo Mendes, professor de literatura da Descomplica.
Na primeira fase, as questões costumam focar na interpretação de texto de trechos da obra, que, muitas vezes, podem ser resolvidas apenas com as informações do excerto. Já na segunda fase, as questões apresentam um grau de cobrança mais profundo, explorando dados bastante específicos das obras e tornando essencial a leitura e domínio plenos.
Atenção aos gêneros literários na hora de revisar
Diogo, da Descomplica, defende que o preparo de mapas mentais ou fichamentos sobre as obras é uma boa estratégia para revisar as leituras obrigatórias de vestibulares. “Em ambos os casos, é importante que o aluno priorize as informações relacionadas aos gêneros literários de cada título”, destaca.
No caso de livros pertencentes ao gênero narrativo, por exemplo, é importante que o mapa mental ou fichamento apresente informações a respeito dos elementos da narrativa como:
acontecimentos importantes que causam surpresas e reviravoltas nos enredos;
imparcialidade ou não do narrador;
nível de conhecimento do narrador mediante a sua onisciência ou não;
simbologia dos personagens e de seus nomes dentro da trama desenvolvida;
passagem do tempo cronológica ou psicológica;
e relevância do espaço para o desenrolar dos fatos.
Quando os textos são pertencentes ao gênero lírico, como as poesias, não se pode ignorar os recursos próprios dessa categoria, que geralmente envolvem:
aspectos da estrutura poética (versos, rimas, ritmo);
posicionamento do eu lírico;
riqueza de recursos estilísticos (é importante que o estudo das figuras de linguagem esteja em dia, por exemplo).
O único livro que foge a essas duas categorias é um que aparece na lista da Unicamp. “Para a obra ‘O Marinheiro‘, de Fernando Pessoa, cobrada pela Unicamp, única pertencente ao gênero dramático, é necessário se atentar para fatores constituintes do gênero textual roteiro”, observa Diogo.
O professor sugere ainda que, ao longo da revisão, o estudante foque em obras pautadas no gênero textual poema. “Isso porque textos pertencentes a esse gênero apresentam alta concentração de linguagem figurada e estruturas sintáticas fora do comum, então é necessário um exercício contínuo de observação e decifração para não ser surpreendido no momento da prova”, explica.
“Obras como ‘Terra Sonâmbula‘, de Mia Couto, ‘Campo Geral‘, de João Guimarães Rosa, também merecem uma atenção especial por se enquadrarem dentro do que podemos chamar de prosa poética, ou seja, flertam com características tanto do gênero narrativo como do lírico”, acrescenta Diogo.
As apostas dos livros que têm mais chance de aparecer
Ambos professores ouvidos pelo GUIA DO ESTUDANTE apontam que as obras que estão de saída da lista são fortes apostas do que têm mais chance de cair na prova. As últimas três edições da Fuvest, por exemplo, confirmam esta tendência.
Portanto, “Poemas Escolhidos“, de Gregório de Matos, “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto, e “Nove Noites” de Bernardo Carvalho podem ser as bolas da vez, já que serão substituídos no vestibular da USP de 2023.
Já a lista da Unicamp passará por uma mudança mais significativa, e segundo os professores, fica mais difícil de tentar identificar um padrão em relação às provas anteriores. Mas Diogo chama atenção para Bicentenário da Independência, comemorado neste ano. Diante dessa efeméride, ele aconselha que fique no radar dos candidatos dois livros.
“Romanceiro da Inconfidência“, de Cecília Meireles, resgata o episódio da Inconfidência Mineira, ocorrido pouco tempo antes de 1822. Já “Mensagem”, de Fernando Pessoa, ainda que se trate de uma obra lusitana, aborda o tema do nacionalismo.
Guia do Estudante