Apesar de não ser a única alternativa, a citação é uma das maneiras mais convencionais de inserir um repertório sociocultural na redação do Enem. Fazer referência à ideia ou opinião de uma autoridade no assunto, como um sociólogo ou filósofo, ajuda o estudante a legitimar um argumento e enriquecer o texto. Mas para alcançar esse resultado, é essencial usar a ferramenta da maneira correta.
Neste texto, explicamos melhor como fazer isso a partir de exemplos. Confira!
Esteja seguro com a sua citação
A primeira dica pode parecer óbvia, mas é sempre bom ressaltar: só faça uso de uma citação se você de fato conhecê-la bem. Confundir autores ou citar uma frase que ninguém nunca disse vai prejudicar sua nota. Então, se tiver dúvida sobre a autoria de uma frase ou não recordar da maior parte dela, não arrisque e busque outro repertório.
Escolha fontes legitimas para citar
No manual destinado aos corretores da redação do Enem, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela prova, explica que a banca só considera o repertório legitimado se as citações apresentadas pelo candidato tiverem respaldo nas áreas do conhecimento. Ou seja, se tiverem ligação com a ciência, a tecnologia e a cultura.
Sendo assim, serão consideradas válidas as referências a nomes de autores, filósofos, poetas, escritores, educadores, médicos, linguistas e outros profissionais das áreas do conhecimento. Também podem ser citados personalidades, celebridades, figuras e personagens, mas desde que sejam conhecidos, diz o manual.
É importante sempre sinalizar o autor (nome e sobrenome) e sua atribuição. Além disso, se a fala foi retirada de um livro que a pessoa escreveu ou de uma entrevista que concedeu a um programa de televisão, por exemplo, é importante colocar a fonte ou nome da obra. Só assim o corretor conseguirá identificar se o repertório é válido.
Você pode fazer a citação direta ou indireta
Existem duas formas de usar citação na redação: de maneira direta ou indireta. Na citação direta, são reproduzidas as palavras de outra pessoa, utilizando aspas. Nesse caso, é preciso ter em mente a frase exata para que você possa transcrevê-la fielmente.
Já na citação indireta, você diz, com as suas palavras, o que a outra pessoa disse. Aqui, não precisa reproduzir a fala exata do autor, mas é preciso saber interpretar a ideia ele quis transmitir. Para introduzir a frase de um autor, você pode usar “segundo o autor…”, “de acordo com o autor…”, “conforme o autor”. Essa segunda forma costuma ser a mais recomendada, já que no dia da prova, com o nervosismo, o estudante pode esquecer a frase exata e acabar se confundindo.
As duas funções de uma citação
Outro erro cometido por muitos estudantes é tentar encaixar qualquer citação coringa no texto, mesmo que não tenha relação com o tema. Lembre-se sempre: a citação precisa estar de acordo com o que você está defendendo no seu texto! A partir disso, ela pode exercer duas funções. A primeira delas é contextualizar o tema ou a sua tese na introdução. Veja um exemplo:
Para a filósofa estadunidense Nancy Fraser, o conceito de justiça social funde-se em duas frentes, sendo uma delas a do reconhecimento, referente à existência e à visibilidade de um determinado grupo ou indivíduo perante o poder público e a sociedade. Nesse viés, a fim do efetivo asseguramento da cidadania de seus indivíduos, o corpo estatal exige a materialização do existir de seus cidadãos mediante documentos oficiais, os quais proporcionam o acesso a prerrogativas e serviços que lhes cabem aos indivíduos registrados. No entanto, não raras são as ocasiões em que não há tais registros, o que levanta debates acerca da importância dos documentos civis e da devida regularização dos cidadãos à garantia de acesso à cidadania plena e, portanto, à visibilidade, no Brasil, embasados, sobretudo, na oportunidade de indivíduos alijados à sociedade ascenderem de condições de vida, somada à possibilidade de estes construírem ser verdadeiro “eu”. Tendo isso em vista, o Estado deve agir visando à facilitação e à democratização de tal processo civil.
Além de contextualizar, a citação ainda pode ser usada para embasar suas ideias nos parágrafos de desenvolvimento.
Veja como exemplo o segundo parágrafo de desenvolvimento da redação nota mil da estudante de Minas Gerais, Adrielly Clara Enriques, no Enem 2020. O tema daquela edição foi “O Estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira“
Em segundo lugar, ressalta-se que há, no Brasil, uma evidente falta de informações sobre os transtornos mentais, fomentando grande preconceito e estranhamento com essas doenças. Nesse sentido, é lícito referenciar o filósofo grego Platão, que, em sua obra “A República”, narrou o intitulado “Mito da Caverna”, no qual homens, acorrentados em uma caverna, viam somente sombras na parede, acreditando, portanto, que aquilo era a realidade das coisas. Dessa forma, é notório que, em situação análoga à metáfora abordada, os brasileiros, sem acesso aos conhecimentos acerca dos transtornos mentais, vivem na escuridão, isto é, ignorância, disseminando atitudes preconceituosas. Logo, é evidente a grande importância das informações, haja vista que a falta delas aumenta o estigma relacionado às doenças mentais, prejudicando a qualidade de vida das pessoas que sofrem com tais transtornos.
Especialista dá dicas para a citação
O conselho da professora pernambucana Fernanda Pessoa, que teve três alunas nota mil na redação, é que o estudante sempre opte por uma citação que seja mais próxima ao tema e que ele entenda o contexto em que ela será inserida. Fernanda alerta que quando é preciso dar uma justificativa muito grande para explicar o motivo da citação, é indicativo de problema.
“Muitos alunos passam o parágrafo todo explicando a citação e acabam não dando a sua opinião sobre o tema. Isso compromete a competência 2 do Enem, que mede a habilidade do candidato em compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema”, diz.
A saída apresentada pela professora é primeiramente apresentar o argumento, e só depois usar a citação ou o pensamento de um autor para fundamentar o argumento, como se ele credibilizasse o que foi dito anteriormente.