Neste primeiro domingo, os candidatos encararam 45 questões de Linguagens e Códigos, 45 de Ciências Humanas e tiveram de elaborar uma redação sobre o tema “desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
A prova veio com uma temática social muito forte, com textos e questões que tinham como base o tema da desigualdade de gênero, desigualdade racial, escravidão, ditadura, preconceitos, violência contra a mulher, meio ambiente, a nova definição da palavra “casamento” no dicionário, taxa de fecundidade, mercado de trabalho e mulheres trans no esporte.
“É possível olhar o Enem 2023 como uma prova fiel ao seu princípio original, que é de fazer o candidato refletir sobre grandes questões sociais à luz da história, da geografia, da filosofia, da sociologia e dos recursos linguísticos e artísticos. Ou seja, não é um conjunto de textos sobre qualquer assunto, sobre qualquer tema que vai ser analisado na questão. Há um fio condutor de cidadania, de problemas sociais, de temáticas importantes da sociedade brasileira que conduz a reflexão das questões de Linguagens e de Humanas”, explica Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo.
Muita leitura, como sempre
Outro destaque foi a quantidade de textos verbais. A prova exigiu muita leitura dos candidatos e apresentou poucos gráficos, tirinhas, imagens e campanhas publicitárias, por exemplo. E, apesar de os enunciados estarem claros e as alternativas, muitas vezes, fáceis, os textos eram longos, demandando uma concentração maior do candidato. “Uma prova muito bem feita, que fez os estudantes pensarem em temas atuais e ligados ao seu cotidiano, mas muito cansativa”, completa Wander Aranha, diretor do Oficina do Estudante.
Isso configura a prova do Enem 2023 como uma prova pouco conteudista, em que a leitura dos textos foi fundamental para estabelecer a relação entre a atualidade, os problemas sociais e os conhecimentos específicos das disciplinas abordadas nesse primeiro domingo.
Os textos expostos ao longo do exame – que envolveram violência de gênero, violência racial e a invisibilidade dos grupos identitários na sociedade – também poderiam ajudar os estudantes na construção de argumentos e da bagagem cultural para redação. Essa é uma característica do Enem, em que enunciados e perguntas dialoguem entre si para que o estudante consiga construir um raciocínio argumentativo na hora do texto dissertativo.
Língua Portuguesa
A prova de Português não apresentou grandes surpresas, seguindo o padrão de anos anteriores. Com enunciados claros, as questões traziam textos diversos, bem escolhidos e de variados gêneros textuais. Um destaque foi a cobrança de apreensão de sentido nas questões. Função da linguagem, que é um assunto tradicional do Enem, foi pouco abordado, mas outros assuntos clássicos como coesão, variação linguística e gêneros apareceram.
A parte de Literatura especificamente também seguiu a tradição, trazendo textos contemporâneos e uma forte diversidade de autores, desde escritores consagrados como Mário de Andrade e Guimarães Rosa, passando por cultura popular, citando Jurandy do Sax e Caetano Veloso, até a literatura negra com Conceição Evaristo e Itamar Vieira Júnior, autor de “Torto Arado”.
Inglês
As questões de inglês tiveram um caráter atual, abordando temas, como diversidade de gênero, imigração e desperdício de alimentos. A prova foi considerada bem elaborada e muito pautada na interpretação de texto.
Espanhol
A prova de Espanhol deste ano tratou de alguns temas polêmicos e bem atuais, como a xenofobia e a dislexia. Além disso, uma questão tratou da valorização da cultura gastronômica da Espanha, como uma identidade desse país. No geral, foi uma prova clássica do Enem e com um nível de dificuldade considerado fácil.
História
Considerada uma prova de grau médio de dificuldade, a parte de História exigiu muita leitura e atenção dos candidatos na hora de relacionar o contexto histórico às alternativas. Além disso, os estudantes enfrentaram mais questões de História do Brasil do que História Geral, e diversas questões eram interdisciplinares, relacionando a disciplina com Geografia e Sociologia.
Outra característica, que dialoga com edições passadas, foi o fato de ser uma prova mais cultural do que política.
Geografia
A prova de Geografia foi clássica e variada, com um nível de dificuldade médio e questões envolvendo meio ambiente, economia, demografia e leitura de mapas.
No contexto de Geografia do Brasil, apareceram temas como agricultura e desmatamento. Já no contexto de Geografia Geral, a cultura pop, o Afeganistão e a relação econômica entre diversos blocos econômicos foram os destaques. Diferentemente de História, que apresentou mais questões sobre Brasil, a prova de Geografia estava equilibrada nesse sentido.
Vale destacar também que cartografia é tema que costuma ser cobrado, mas ficou de fora do exame desse ano.
Filosofia
Aqui, assim como no ano passado, a ênfase ficou na Filosofia contemporânea. Dessa forma, foram cobradas mais questões sobre autores de hoje ou do século 19 e 20, do que de autores antigos.
Sociologia
A prova de sociologia estava equilibrada em termos de grau de dificuldade, abordando temas ligados a desigualdades e discriminações sociais e raciais. Por ser mais temática e interpretativa, seguiu o padrão de anos anteriores.
As questões mais complexas traziam autores contemporâneos e textos mais densos, o que exigia maior atenção na leitura por parte dos candidatos.
Colaboraram
Curso pré-vestibular Oficina do Estudante: Wander Azanha, diretor; Hernán Anselmo Bastidas Veloso, professor de espanhol; Márcio Pantoja, professor de Inglês; Luis Felipe Valle, professor de Geografia; André Barbosa, professor de Literatura; Silvio Sawaya, professor de Humanidades; Liliane Negrão, professora de Gramática e Interpretação; Jéssica Dorta, professora de Redação; e Victor Rysovas, professor de História.
Curso Anglo: diretor Sérgio Paganim.
Poliedro Curso: Natanael Soares de Barros, coordenador pedagógico; Tiago Salgado de professor de História; Paulo Ricardo Ribeiro Castro, professor de Geografia; Natasha Hennemann, professora de Filosofia e Sociologia; Guilherme Reis, professor de Língua Portuguesa; Vívian Ulhoa, professores de Língua Portuguesa; e Patrick Quadros, coordenador pedagógico.