Divulgado nesta sexta-feira (16), o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira) indicou poucas mudanças na qualidade do ensino no Brasil entre 2019 e 2021, mas especialistas pedem cautela ao interpretar os dados. Uma análise apressada dos resultados levaria a conclusão de que a pandemia pouco afetou o aprendizado, desconsiderando medidas como fechamento das escolas e a aprovação compulsória dos estudantes.
Em síntese, o Ideb mede a qualidade do ensino na rede pública e privada e varia em uma escala de 0 a 10.
Para o Ensino Médio, o índice manteve-se estacionado em 4,2 quando comparado a última edição realizada antes da covid-19. Já nos primeiros anos do Ensino Fundamental, variou apenas de 5,9 para 5,8 – uma mudança que não dá conta de explicar o grande impacto da pandemia na alfabetização de crianças.
A variação ínfima nos números é explicada, principalmente, por dois fatores: a aprovação automática de alunos durante a pandemia, instituída em diversas redes de ensino no país, e a de estudantes que realizaram as provas de português e matemática do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica).
Isto porque estes são justamente os dois elementos que compõem o Ideb: ele é calculado cruzando os dados de aprovação e as notas obtidas no Saeb. Com a aprovação automática dos estudantes e a queda no número de participantes no Saeb, os resultados acabaram destorcidos, não representando os reais impactos da pandemia no aprendizado.
Durante a divulgação do Ideb nesta sexta-feira, a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Helena Guimarães, afirmou que, diferentemente do que ocorria em outras edições, o índice de agora não deve servir de parâmetro para avaliar a evolução da qualidade de ensino no país. “A comparabilidade com anos anteriores deve ser evitada, porque os resultados foram impactados pela mudança na aprovação dos estudantes”.
A aprovação compulsória dos estudantes foi uma recomendação do próprio CNE a fim de minimizar os impactos para os estudantes mais vulneráveis.
Em relação ao Saeb, alguns estados, como Roraima, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Bahia sequer alcançaram os critérios mínimos (50%) de adesão à prova, e por isso os números não entraram nos cálculos nacionais.