Para se dar bem no Enem, é importante ir além das disciplinas tradicionais. Saber as fórmulas de física, entender as escolas literárias ou conseguir explicar as principais características da Primeira Guerra Mundial é fundamental, mas é preciso relacionar as áreas do conhecimento com acontecimentos do dia a dia e saber o que se passa no mundo. Seja para enriquecer seu repertório para a redação ou entender melhor a contextualização de uma pergunta, estar por dentro das atualidades faz toda a diferença no exame.
Por isso, conversamos com o professor de geografia Sebastian Fuentes, do Oficina do Estudante e do Curso Anglo, e separamos cinco temas atuais que podem aparecer no Enem 2022. Mas, antes de se aprofundar no assunto, é importante entender como o exame é elaborado e como isso afeta as atualidades que são cobradas nas questões.
O Banco Nacional de Itens
As questões utilizadas no Enem são extraídas do Banco Nacional de Itens do Inep e todas elas foram previamente elaboradas, revisadas e avaliadas por especialistas. Além disso, foram testadas em escolas pelo Brasil, para ver se continham algum erro, vício ou algum tipo de “pegadinha”. Por conta dessa complexidade para a validação das questões, é difícil manter questões muito atuais no exame. “Existe todo esse sistema, que gasta muito tempo e impede a banca de elaborar uma questão sobre uma atualidade deste momento e imediatamente colocar na prova. A chance dela já estar desatualizada na hora da aplicação é gigante”, explica Fuentes.
Um exemplo prático: o exame não vai perguntar as áreas que a Rússia dominou na Ucrânia em agosto de 2022. Essa é uma informação pontual e até a questão passar por todo o processo de validação, não servirá mais para a prova. Em vez disso, podem questionar a importância do Mar Negro para a política russa e para a política ucraniana – algo mais contextualizado e atemporal.
Depois que uma questão é feita, validada, testada e vai para o banco de itens, fica armazenada até o momento em que os especialistas vão selecioná-la para a prova. Essa seleção é feita no final do primeiro semestre, segundo Fuentes. “Ou seja, os candidatos não precisam se preocupar com qualquer eventual atualidade que aconteceu no segundo semestre de 2022. O que ocorreu no primeiro semestre também é difícil de cair, já que precisa passar por todo o processo descrito anteriormente. Mas não é impossível de aparecer no Enem, só é mais improvável.”
Considerando esse contexto, confira cinco temas que podem aparecer no Enem 2022:
Geopolítica entre Estados Unidos e China
Esse tema já está em pauta na mídia e nas redes de ensino há alguns anos. Por isso, em vez de elaborar uma questão específica sobre 2022, pode-se questionar o quanto a economia chinesa cresce em detrimento da economia norte-americana, e se existe interesse dos Estados Unidos em atrapalhar o crescimento chinês.
Aqui é importante entender que o eixo político e geopolítico do mundo está se transferindo do ocidente, mais voltado aos Estados Unidos, para o Oriente, voltado para a China.
“A China está tendo um crescimento econômico exacerbado e, com certeza, os Estados Unidos se assustam com esse crescimento porque podem perder a hegemonia econômica e política no mundo como um todo. É exatamente esse ponto que o Enem e os vestibulares podem questionar”, explica Fuentes.
Desastres ambientais
Os desastres ambientais podem ser naturais ou antrópicos (provocados pelo ser humano) e esse é um tema que aparece com frequência no exame. Mas o professor de geografia destaca que as questões não devem pedir os desastres naturais exatamente ocorridos em 2022.
Por outro lado, pode aparecer algo relacionado à mineração, por exemplo. Em vez de perguntar sobre acontecimentos específicos, como Brumadinho e Mariana, que já aconteceram há alguns anos, o Enem pode questionar a importância da mineração na economia brasileira, ao mesmo tempo em que pondera os riscos que a mineração traz para a questão ambiental, social e econômica.
Além disso, a prova pode abordar como o aquecimento global está interferindo nesses desastres ambientais, intensificando-os e aumentando a sua frequência. Segundo Fuentes, o Enem também costuma cobrar questões de geografia física. Neste caso, podem perguntar se determinado desastre ambiental tem uma relação com intemperismo, com erosão, e se a ação do ser humano teve algum impacto no desastre.
Questão energética
É um tema corriqueiro há anos em diversos vestibulares. Mas atenção a este recorte: a questão energética da Europa, em específico, tem chamado a atenção das bancas, já que há uma batalha para transformar a matriz energética do continente em algo mais sustentável. O que ocorre é que as questões naturais, econômicas e políticas aparecem como um empecilho nesta transição.
“A gente pode inclusive encontrar uma relação entre uma economia mais voltada à energia não sustentável, como carvão e petróleo, tentando acabar com uma tentativa de mudança da matriz energética para ser mais sustentável.”
Na Europa, especificamente, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia complicou a situação. A tensão na região do Mar Morto entre esses países perdura desde 2014. Por isso, também é possível aparecer uma questão sobre o tema e os conflitos internos do continente europeu – sem perguntar questões específicas da guerra.
Assuntos urbanos
Segundo o professor de Geografia, o Enem adora perguntar sobre questões urbanas. Assim, podem aparecer questões sobre enchentes e desastres, e também sobre a questão social – pobreza, gentrificação e a segregação socioespacial que ocorrem em grandes centros urbanos.
Ainda é possível relacionar tudo isso à pandemia da covid-19, principalmente por causa das consequências para a população mais vulnerável.
É possível a banca questionar, por exemplo, como o plano diretor de cada cidade pode ter prejudicado ou não o controle da pandemia. A pandemia afetou da mesma maneira em todas as partes de determinado município? O transporte público foi seguro durante o período? Houve segregação das pessoas que perderam o emprego durante a pandemia?
É importante avaliar como a pandemia mudou a organização da sociedade dentro da cidade, como a questão do transporte público e da segurança.
Biomas
Em vez de o Enem perguntar especificamente sobre as queimadas ou o desmatamento das florestas, pode questionar os candidatos a respeito dos biomas.
Qual a importância do Pantanal? Qual a importância da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica? Qual a importância das terras indígenas na preservação desses biomas? São todas maneiras de abordar atualidades, mas sem tratar de um assunto datado.
“Ou seja, o Pantanal pegou fogo, mas a questão vai ser qual a importância geográfica ou biológica do bioma. Ou então podem perguntar sobre a Amazônia”, explica Fuentes.
Além disso, também pode aparecer algo sobre geografia física: perguntando sobre as características do bioma em si, a importância natural dele e dos seus recursos hídricos.