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10 apostas de tema para a redação do Enem 2023

Para milhares de estudantes de todo o país, 5 de novembro é o dia mais importante deste ano. É nessa data que será aplicada a primeira prova do Enem 2023. Apesar do exame ser dividido em dois dias, o primeiro acaba sendo mais aguardado (e temido) por uma razão bem simples: é quando os candidatos terão que escrever uma redação dissertativa-argumentativa que vale, sozinha, mil pontos – e muitas vezes garante a aprovação na universidade. Além do peso da prova, o mistério em torno do tema que será cobrado também coloca as expectativas nas alturas, e as especulações e apostas tornam-se inevitáveis.

É claro que adivinhar o tema que estampará o caderno de questões não garante, por si só, um bom desempenho. Basta olhar para redações que alcançaram nota máxima em anos anteriores. Os autores são candidatos que relatam uma rotina intensa de preparação, incluindo treino e leitura de atualidades.

Mas a pouco mais de um mês da prova, ter uma noção de quais assuntos são destaque e inteirar-se sobre eles pode ser uma ferramenta extra na preparação – ou, ao menos, ajuda a aplacar a ansiedade.

Pensando nisso, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com professores de cursinhos e reuniu as principais apostas de tema para a redação do Enem 2023. Confira.

1. Como as mudanças climáticas impactam os Direitos Humanos

Os alagamentos em São Sebastião, litoral paulista. Deslizamentos que se repetem ano após ano em Petrópolis, Rio de Janeiro. Mesmo as ondas de calor, que castigaram o Brasil e o mundo neste ano. As mudanças climáticas e a devastação ambiental podem, segundo os professores, aparecer no tema da redação do Enem 2023. Mas eles chamam a atenção para um recorte em específico: a relação delas com os Direitos Humanos.

A Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) declarou, em 2022, que todas as pessoas no planeta têm direito a um meio ambiente saudável. Trata-se de uma garantia colocada em xeque pelas mudanças climáticas, que ameaçam ainda outros direitos como o acesso à alimentação e à água – e, portanto, colocam em risco o futuro da humanidade.

Para completar, o Inep, banca que elabora o Enem, pode explorar como a devastação ambiental atinge com maior gravidade alguns grupos em específico, como pessoas negras, pobres e de países periféricos. É o chamado racismo ambiental – leia mais sobre ele aqui.

2. Os impactos da Inteligência Artificial na sociedade

É improvável que os estudantes cheguem ao final de 2023 sem ter ouvido falar em Inteligência Artificial ou ChatGPT. Este foi o ano em que ferramentas de IA popularizaram-se, ao mesmo tempo que as discussões a respeito delas ficou mais complexa. Afinal de contas, é aceitável utilizar o ChatGPT nas escolas? Recriar a imagem de uma cantora que já morreu em uma campanha publicitária ultrapassa limites éticos? Com estas novas tecnologias, chegaremos mais longe na Medicina? A Inteligência Artificial pode mesmo tirar nossos postos de trabalho?

Segundo professores de redação, todos estes questionamentos podem render temas diferentes nesta edição do Enem. É importante considerar que o exame cobra sempre uma relação com temas concretos e que impactam a sociedade – por isso, é preciso tirar a IA de uma discussão abstrata e pensar em seus efeitos práticos.

3. Política unificada para identificação de pessoas desaparecidas

Entre 2019 e 2021, mais de 200 mil pessoas desapareceram no Brasil, sendo que 29,3% delas eram adolescentes entre 12 e 17 anos, aponta o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. As razões para os desaparecimentos são variadas e, justamente por isso, professores não acreditam que este seria o problema central de uma proposta de redação do Enem. Para eles, o que chama a atenção em relação ao tema é a falta de uma política unificada e bem estruturada para auxiliar nas buscas.

Desde 2019 está em vigor a Lei da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas – que, na prática, é quase letra morta. Apesar de previsto em legislação, ainda não foi criado um banco de dados unificado que permita cadastrar pessoas desaparecidas e disponibilizar as informações a nível nacional. O país também enfrenta problemas operacionais que dificultam as buscas.

Por tudo isso, é possível que o Enem cobre uma redação que discuta as causas deste problema e a persistência dele.

4. Escalada da violência escolar no Brasil

Ao longo de 2023, os brasileiros assistiram, por aqui, à escalada de um tipo de violência muito comum em outros países como os Estados Unidos: os ataques a escolas. Um deles resultou na morte de uma professora e quatro alunos ficaram feridos. Em outro, quatro crianças foram mortas em uma creche de Blumenau. Embora tenham ganhado atenção da mídia pela violência e número de vítimas, os casos não são isolados: uma pesquisa de 2019 da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já colocava o Brasil como um dos países com ambiente escolar mais violentos.

Neste sentido, o Enem pode apresentar um tema que problematize as causas do aumento desta violência e as possíveis soluções.

5. Aumento da mortalidade materna no Brasil

Quando o assunto é mortalidade materna, o Brasil retrocedeu quase 25 anos no pós-pandemia. É isso que indicam dados do Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) lançados em 2021, um ano depois do surgimento da Covid-19. Especialistas afirmam que a maior parte da morte de gestantes e puérperas no país são classificadas como evitáveis. Na prática, isso significa que elas ocorrem, essencialmente, por questões relacionadas à falta de infraestrutura e de profissionais capacitados – que, por sua vez, estão relacionadas ao baixo investimento na saúde.

No Enem, a proposta de redação poderia trazer essa problemática e pedir aos candidatos que explorassem as causas do aumento da mortalidade materna e possíveis soluções para o problema.

6. A persistência do racismo no esporte

Casos como o do jogador brasileiro Vinícius Jr., que foi hostilizado com ofensas racistas na Espanha, trouxeram de volta ao debate público o racismo no esporte. Mas este está longe de ser um problema recente no Brasil e no mundo – remete, na verdade, à escravidão e ao seu legado. Para explicar os casos de preconceito racial que ocorrem em espaços de diversão como estádios de futebol, shows de stand-up e outros, o jurista Adilson José Moreira cunhou o termo “racismo recreativo“.

Segundo ele, essa modalidade de racismo é socialmente mais aceita que as outras, embora tenha o mesmo pano de fundo: “as pessoas querem convencer a sociedade como um todo que negros, asiáticos, indígenas, não são atores sociais competentes”, argumenta. Para uma boa parcela da sociedade, no entanto, quando o racismo aparece em tom de piada não tem potencial de causar danos visíveis, e por isso seria menos grave.

Ataques como o sofrido por Vini Jr. podem ser tema de redação do Enem, explorando como essa violência se perpetua e quais seus efeitos.

7. Desafios para a saúde pública frente o aumento de infarto entre jovens

Mais uma aposta de tema baseada em dados alarmantes: nos últimos 15 anos, a média de internações por infarto entre jovens com menos de 30 anos cresceu quase 160%. Profissionais da saúde acreditam que o aumento do infarto na faixa etária tem razões multifatoriais, e passa pelo aumento no consumo de ultraprocessados, pelo sedentarismo e rotinas cada vez exaustivas.

Em suma, os hábitos de vida moderno estão colocando a saúde em risco, e nem mesmo os jovens estão escapando de estatísticas como estas.

Além disso, o assunto envolve uma outra problemática: o despreparo do sistema público de saúde para lidar com estes casos. No início deste ano, por exemplo, um jovem de 25 anos morreu em São Paulo após sofrer três paradas cardíacas enquanto peregrinava em busca de atendimentos em diferentes hospitais. O motivo pelo qual não era aceito nas unidades de saúde era a falta de macas adequadas para receber pessoas obesas.

8. Sub-representação feminina na política

O Enem historicamente cobra temas relacionados aos direitos de minorias sociais – um exemplo foi a proposta de redação do ano passado, que tratava dos desafios para valorização das comunidades tradicionais. Neste sentido, professores defendem que é possível um tema acerca do espaço ocupado pelas mulheres na política e dos efeitos da sub-representação feminina em espaço de poder.

Alguns números ajudam a desenhar o quadro: 91 mulheres foram eleitas deputadas federais em 2022, o que representa apenas 17,7% das cadeiras da Câmara. O quadro se repete em um outro espaço importante de decisões no país: ao longo de toda a história, apenas 3 mulheres foram ministras do Supremo Tribunal Federal (STF), contra 168 homens.

Os candidatos podem problematizar sobre as origens dessa desigualdade no texto e por que ela persiste, a despeito da legislação que estabelece, por exemplo, as cotas de gênero nas eleições.

9. Entraves para doação e transplante de órgãos no Brasil

Se você está mentalmente rebatendo essa aposta de tema enquanto lê, imaginando que o caso de transplante do apresentador Faustão é muito recente para pautar o tema de redação do Enem, devemos dizer que você está parcialmente certo. De fato, o Inep elabora a prova do Enem com uma grande antecedência, então não é viável que acontecimentos ocorridos nos meses que antecedem a prova pautem questões e a proposta de redação.

No entanto, a relevância deste tema antecede o caso do apresentador. Você sabia, por exemplo, que o Brasil é o segundo maior transplantador de órgãos do mundo? E que temos um dos arcabouços legais mais avançados, que garante um sistema ágil e seguro para que os transplantes ocorram?

O maior entrave para as pessoas recebam um órgão por aqui é de razão cultural: a sociedade ainda é resistente à doação. Neste sentido, o Enem pode solicitar que os estudantes argumentem sobre os entraves para o transplante no país e proponham soluções.

10. Caminhos para assegurar direitos maternos no mercado de trabalho

Mais uma aposta de tema envolvendo as mães. O mercado de trabalho, por si só, já é um espaço hostil às mulheres – elas sofrem com assédio, desigualdade salarial e dificuldade de ascender a cargos de gestão. Quando se tornam mães, o cenário piora. A legislação brasileira garante alguns direitos, como a licença maternidade e a proibição de que sejam demitidas durante a gravidez. Mas, na prática, os empregadores buscam jeitos de burlar as leis.

Mães são demitidas logo após retornarem da licença e muitas encontram dificuldades de se recolocar no mercado de trabalho por preconceito dos recrutadores. E, considerando que as mulheres representam mais da metade da população brasileira, o problema se torna ainda mais alarmante.

Guia do Estudante

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